BRASÍLIA - Após debates acalorados, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, por 44 votos a 17, o Projeto de Decreto Legislativo que ratifica a adesão da Venezuela ao Mercosul. Se a matéria for aprovada, também no Plenário da Casa, seguirá ao Senado e, se passar, o Brasil será o terceiro dos quatro sócios do bloco econômico a chancelar a medida.
O lider do governo na Câmara, deputado federal José Múcio (PTB-PE), comemorou o resultado dizendo que a oposição não deveria ter se posicionado contra o projeto, baseada na aversão ao presidente Hugo Chávez.
"Nós, políticos, somos passageiros, e as sociedades são permanentes. Hugo Chávez é passageiro como nós, por isso temos que ver nossas responsabilidades como parceiros de séculos. A venezuela é o país que dá o segundo maior saldo comercial do Brasil (no comércio exterior) e o Brasil é o terceiro maior fornecedor de produtos e serviços da Venezuela", justificou José Múcio.
Para o Brasil permitir a entrada da Venezuela no Mercosul, o protocolo de adesão precisa ser aprovado no Plenário da Câmara (pelo conjunto de 513 deputados federais). Por trás desse debate sobre o bloco econômico do chamado Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, além de países associados), está a tentativa da oposição de associar a imagem do governo Lula como aliado do ditador pelo alinhamento ideológico de esquerda.
Uma das críticas mais contundentes na CCJ contra o protocolo de adesão foi feito pelo deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA). "O Democratas em peso votará contra a entrada da venezuela no Mercosul. O que está se discutindo aqui é se daremos um cheque em branco ao ditador emergente (Hugo Chávez) para compor o Mercosul ao lado do Brasil", alegou ACM Neto.
Outro deputado do DEM, Efraim Filho (PB), acrescentou que "se aceitarmos a Venezuela, estaremos as portas para problemas no País".
Na noite de terça-feira, o PSDB soltou nota oficial informando que os "tucanos avaliaram que o comportamento do presidente venezuelano é uma ameaça à democracia na América do Sul, tanto pela influência que tem tentado expandir em outros países, como pela corrida armamentista que tem promovido".
O deputado governista José Genoino (PT-SP), especialista de seu partido nas questões militares e internacionais, disse que "o Brasil ficaria na contramão da história" se barrasse a Venezuela e questionou os argumentos dos oposicionistas, criticando o "conservadorismo" e o "preconceito ideológico" do DEM e PSDB.
"Hoje não se politiza nem se ideologiza as relações internacionais, o mundo caminha para o multilateralismo", alegou Genoino. Até mesmo o PSol, normalmente contrário às posições governistas, defendeu o ingresso da Venezuela no Mercosul, e provocou o DEM ao lembrar que muitos políticos desse partido apoiaram o regime ditatorial militar no Brasil.
"Quem está falando em democracia aqui foram os defensores da ditadura militar. Vamos respeitar a autodeterminação dos povos, é isso que vocês não querem", discursou o deputado Ivan Valente (PSol-SP).
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